quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sobre a Maria

A Maria é a minha psicoterapeuta. Depois de repensar e repensar o que poderia fazer para tentar resolver uma série de questões pessoais, decidi optar por fazer psicoterapia.
A Maria foi-me 'indicada' pela minha médica. Ou, por outras palavras, ela depois de ver que eu fazia merda a seguir a merda, passou-se para o outro lado, decidiu que a brincadeira tinha acabado e que eu tinha de fazer alguma coisa por mim. No meio de alguns insultos passou-me o telefone dela com a indicação: é uma pessoa muito afectuosa.

Nesse dia saí de lá a sentir-me uma pessoa incapaz de resolver as coisas sozinha. Com muito custo lá liguei à Maria para marcar uma hora.

No primeiro dia foi bastante complicado. Não sabia o que dizer, ou melhor não queria falar com aquela pessoa que eu não conhecia de lado nenhum. No entanto, a primeira impressão foi positiva. Ela explicou-me exactamente o processo e eu expliquei-lhe o que pretendia daquela hora semanal.

A partir daí nunca mais me calei. Assim que me sento, começo a debitar as minhas incongruências.
Quando estou num dia não, a primeira coisa que faço é começar a pôr em questão o trabalho dela, o seu profissionalismo, a sua educação. Adoro porque ela nunca vacila, mantém-se firme e racionaliza as minhas questões argumentando com exemplos, citando este ou aquele psicólogo que eu acabei de denegrir e um século de conhecimento acumulado em relação à mente, sentimentos e afectos.
Apesar de não ser da escola freudiana, no dia em que pus em causa o 'pai' da psicologia, senti que por momentos teve quase a perder a calma. Acho que não gostou do facto de eu dizer que ele era um desiquilibrado sexual e reprimido nos afectos.


Estar com a Maria é bom. Naquela hora que estamos juntas eu posso falar de quem quiser (ela sabe o nome de todos, tem uma memória fantástica), de tudo e sem qualquer tipo de amarras ou preconceitos. A Maria é a minha mosqueteira. Tudo o que digo para ela tem um significado positivo. Mesmo as coisas más que sinto, a tristeza, a raiva, a insegurança, ela consegue sempre explicá-las de um modo muito pragmático, argumentativo, inteligente e faz-me realmente pensar sobre as coisas.
A Maria é uma defensora das mulheres, mesmo não a conhecendo a outro nível, sinto que ela é uma feminista. Mas não daquelas para as quais os homens não prestam. Ela preocupa-se genuinamente com a afirmação da mulher, sem para isso ter que odiar os homens.
As nossas sessões são muito simples: umas poltronas fantásticas, uma vista sobre a cidade deslumbrante e uma conversa inteligente. Se estivessemos a beber Cosmopolitans seria quase uma cena do 'Sexo e a Cidade'. A Maria é a Carrie, a Samantha, a Charlotte e a Miranda. Ou seja, eu ponho um assunto em debate e ela propõe-me logo ali três ou quatro teorias para explorarmos. Claro que com o passar do tempo, uma única teoria começa a desenvolver-se à minha volta. Estamos na fase em que ela quer que eu me liberte da culpa, acaba por ser interessante porque ela não é a única na minha vida que acha que eu carrego culpa desnecessária. Neste exercício é interessante como ela usa expressões como: que chato, mas isso é uma seca, pouca gente aguenta isso, não atendas, faz o que te apetece fazer. Eu acho que ela é um bocado louca. Os conselhos que ela me dá são acompanhados sempre com um: porque não? E acho que já apanhei esta expressão dela. A última sessão foi linda. Já não estávamos juntas há um mês por causa das férias. Decidi levar apontado tudo o que achava relevante que se tinha passado no último mês para lhe contar (uma cena típicamente virgem). E lá comecei a contar-lhe os pormenores e ela dando os seus bitates e fazendo-me perguntas sobre coisas que até eu já me tinha 'esquecido'. Acabou a nossa sessão com ela a dizer-me que eu tinha tido um mês muito complicado e que se calhar deveria aceitar os convites que me tinham feito. Ou seja, em bom português ela disse: mas se podes dar uma keka com quem quiseres porque é que não o fazes?
Talvez a Maria tenha razão, porque não?



2 comentários:

Anônimo disse...

Todos deviamos ter uma Maria na nossa vida!

You chose to stay. So go ahead =)

Cátia disse...

Todas temos uma Maria na nossa vida... afinal de contas, segundo o Sr. Rogério "Todas as mulheres são Marias"!!! Mas torna-se muito mais fácil quando é alguém externo que nos diz o que nós já sabemos. Ou melhor, que nos leva a pensar nas várias hipóteses.