sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sobre a comunicação oral, escrita e afins

Julgo que a vocalização e, mais tarde, a escrita foram desenvolvidas com o intuito de aproximar.
Em primeiro lugar, porque precisávamos de comunicar para nos protegermos em relação ao perigo, na busca de alimentos e em todos os princípios básicos de sobrevivência.
Na minha opinião foi uma ideia excelente.

Em algum ponto da evolução estragou-se tudo.

A comunicação oral foi a primeira a criar problemas. No particular, pelo imenso gap que existe entre o pensamento e a palavra e, no geral com esta história de cada um desenvolver uma língua à sua maneira.
Depois alguém deve ter pensado: Epá, se calhar era uma boa ideia tentarmos pôr aí as coisas num bocado de pele de animal para não esquecermos estes pensamentos. Óptimo. Fantástico. Os egípcios fizerem isso como ninguém, verdadeiros especialistas em pôr sentimentos em imagens.
Os árabes pensaram: E se agora associássemos símbolos em vez de ser a pensamentos a sons? Não era porreiro?
E metade do mundo foi atrás desta fantástica ideia.
Ora aqui está uma linguagem que representa o que queres dizer, mas na verdade não representa absolutamente nada porque é apenas uma conjugação de sons que se apelidou de língua.

Ok, tudo bem. Eu aceito que se calhar até é mais simples. Mas se eu agora escrever: Medo. Cada um vai associar ao seu próprio sentimento de medo. Mas se eu desenhasse uma gaja a gritar mais uma cobra, todos, mas todos, iriam interpretar da mesma maneira. Não existiria margem para dúvidas. Era aquilo e acabou. Não existiriam perguntas como: Mas ela veio de onde? E como é que entrou aqui? Mas é venenosa ou não? Caraças pá! Uma gaja com medo de cobras é simplesmente: uma gaja com medo de cobras.

Na comunicação oral, até se torna mais assustadora a falha de comunicação.
Eu digo uma coisa, mas há sempre inúmeras interpretações sobre o que digo.
Se eu disser: A gaja tem medo de cobras. A primeira reacção é: Porque é que ela me disse aquilo a mim? O que é que ela queria dizer com isso? Quem é a gaja? Será que era uma metáfora para mim? Eu sou a gaja ou a cobra?
E isto pode continuar, e continuar, e continuar, e continuar...

Adoro conversar. Sou uma chata do caraças. Se calhar tenho alguma dificuldade em me expressar: às vezes não uso o tom de voz correcto, às vezes a minha posição corporal não acompanha o que digo e claro que às vezes digo coisas que não devia ou não queria dizer.

Mas, sinceramente, canso-me das mil interpretações que existem à volta de uma palavra.
Tudo bem, eu admito que faço a mesma coisa.
Hoje estou num dia egípcia.

Um comentário:

Anônimo disse...

...e só de pensar que mais nenhum idioma consegue expressar, numa palavra, a 'saudade'... =)